Joaquim Pedro de Andrade Cineasta brasileiro
25/5/1932, Rio de Janeiro (RJ)
10/9/1988, Rio de Janeiro (RJ)
Num casebre em plena selva, uma mãe, de cócoras, dá à luz uma criança preta, que cai de cabeça: ninguém que tenha assistido a "Macunaíma" se esquecerá da cena em que Grande Otelo representa o recém-nascido. Aquela inesquecível comédia de 1969, dirigida e produzida por Joaquim Pedro, foi comercialmente a mais bem-sucedida produção do Cinema Novo.
Joaquim Pedro Melo Franco de Andrade começou a interessar-se por cinema no início da década de 50, quando cursava física na Faculdade Nacional de Filosofia (Rio de Janeiro). Integrava o cineclube da faculdade, que organizava projeções e debates e realizava curtas em 16 milímetros. Entre os filmes que chegaram a ser finalizados, está "O Mendigo" (1953), com Joaquim Pedro na direção e Saulo Pereira no papel principal.
Em 1958, foi assistente de direção dos irmãos Renato e Geraldo Santos Pereira em "Rebelião em Vila Rica". No ano seguinte, dirigiu os curtas "O Mestre de Apicucos" e "O Poeta do Castelo" (respectivamente sobre Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, seu padrinho).
Joaquim Pedro iniciava "Couro de Gato" (1960), mesclando documentário e ficção, quando viajou para a França. Lá, freqüentou o Institut des Hautes Études Cinématographiques e fez estágio na Cinémathèque Française. Em Paris, conseguiu finalizar "Couro de Gato" (que depois seria incorporado no longa-metragem "Cinco Vezes Favela", de 1962) antes de seguir para estudar em Londres com Thorold Dickinson, na Slade School of Art. Sua última parada no exterior foi em Nova York, para um estágio com os irmãos Albert e David Maysles.
Ao retornar para o Brasil, foi convidado pelo produtor Luiz Carlos Barreto para dirigir "Garrincha, Alegria do Povo" (1962). Com montagem que misturava material de arquivo a imagens originais, o filme foi um marco do documentário brasileiro.
Ainda com Luiz Carlos Barreto na produção, Joaquim Pedro fez seu primeiro longa-metragem: "O Padre e a Moça" (1965), baseado num poema de Carlos Drummond de Andrade. Na trama, a moça pobre (Helena Ignez), que não deseja casar com o tutor, apaixona-se pelo novo padre da cidade (Paulo José), que fica dividido entre o desejo, a castidade e a vontade de ajudá-la.
Joaquim dirigiu ainda dois documentários: "Cinema Novo" (1965), produzido para a TV alemã; e "Brasília, Contradições de uma Cidade Nova" (1967). E, sobretudo, adaptou para o cinema uma obra-prima do modernismo brasileiro: "Macunaíma", de Mário de Andrade.
Juntando humor negro, chanchada e elementos do tropicalismo, o filme satirizava a realidade brasileira do final do anos 1960. Contava com as excelentes atuações de Grande Otelo, Paulo José, Dina Sfat, Milton Gonçalves, Jardel Filho, Joana Fomm e Hugo Carvana, entre outros. O longa foi concluído em 1969, em meio à prisão do diretor por motivos políticos.
Após o sucesso de "Macunaíma", a produção conseguiu incentivos do governo para realizar "Os Inconfidentes" (1972). Só que o filme se articulava justamente pela crítica à história oficial, com uma narrativa centrada não em Tiradentes, mas nos intelectuais do movimento.
Em "Guerra Conjugal" (1975) e no curta "Vereda Tropical" (1977), que integra o longa "Contos Eróticos", aparecia outro gênero de grande popularidade na época: a pornochanchada.
Em seu último filme, "O Homem do Pau-Brasil" (1981), Joaquim Pedro voltou a debruçar-se sobre o modernismo, juntando a obra de Oswald de Andrade a episódios da trajetória desse autor.
Ao longo da década de 1980, Joaquim Pedro de Andrade envolveu-se com os roteiros de "O Imponderável Bento Contra o Crioulo Voador", "Casa-Grande, Senzala & Cia" (uma adaptação do clássico estudo de Gilberto Freyre) e "O Defunto" (baseado nas memórias de Pedro Nava).
Nenhum desses projetos chegou a realizar-se: poucos meses após um diagnóstico de câncer no pulmão, Joaquim Pedro de Andrade morreu aos 56 anos.